Gabinete: Luciano Siqueira experimentou a prisão, tortura e solidariedade durante o golpe de 64
O período, segundo Siqueira, deixou lições e marcas para a vida toda
abril 15, 2025 - 10:25 am

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
O ex vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira durante sua participação no programa Gabinete, apresentado pela editora de política do LeiaJá, Thabata Alves relatou sobre o período que ficou preso de abril de 1974 até 1976, quando conquistou a liberdade.
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O político relatou que era estudante de Medicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) quando ocorreu o golpe militar em 1964. Ele era militante ativo na reivindicação de direitos fundamentais para os estudantes da época. Por isso, foi perseguido, ameaçado e depois preso e torturado no Ceará. O período, segundo Siqueira, deixou lições e marcas para a vida toda.
Siqueira cita felicidade nas adversidades
Durante a entrevista, Siqueira relembrou momentos de “solidariedade” que vivenciou como fugitivo no período ditatorial. Ele relatou que mesmo escondido, as pessoas notavam que eram militantes e os ajudavam na medida do possível. De acordo com ele, alguns amigos escaparam de ser presos por causa de vizinhos que após perceberem uma movimentação adversa, avisaram os amigos que conseguiram escapar.
Em seu relato, Siqueira frisa que a convicção de estar no lado certo também era algo que os motivava a continuar lutando pela democracia. Mesmo em momentos de tensão e perseguição, Luciano tentava ao máximo ter uma vida normal ao lado da esposa, Luci Siqueira, que é sua companheira desde os tempos da ditatura até hoje Eles conversavam, conheciam vizinhos e assistiam a jogos de futebol. Dessa forma, mesmo com toda a dificuldade, eles também eram felizes
“Mesmo as pessoas em condições adversas, elas conseguem também ser felizes. A vida é multifacetada, você sempre encontra razões para estar bem”.

O ex-prefeito Luciano Siqueira e a apresentadora Thabata Alves / Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Sessões de tortura
Em um momento comovente da entrevista, o ex-vice-prefeito do Recife detalhou as torturas às quais foi submetido durante o período que foi preso pelos militares. “Eu só fui torturado uma vez sem capuz, quando eu fui preso no Crato e levado para um quartel do exército que estava em construção. Eu sei disso depois, em Juazeiro, juntinho do Crato. Eu fui torturado uma tarde inteira, entrando pela noite, numa sala pequena, sem mobília, com velas nos cantos da sala e aí fui muito espancamento, houveram chutes. Depois, daí a três dias, fui torturado em Fortaleza, num quartel e o restante aqui no quartel do exército (no Recife), mas sempre de capuz, todos eram encapuzados ou usavam uma venda de borracha muito forte, parecida com as que os americanos usavam na guerra do Vietnã”, rememora.
Ele ainda relembra de um episódio muito delicado, quando reencontrou sua esposa após ter sido torturado e ter sido submetido a sessões de choques elétricos. “E eu sei que sou levado para minha mulher me ver, ela quase não me reconhece, eu estava coberto de hematomas, eu não conseguia falar direito porque queria gritar e o choque elétrico além de doer muito ele descontrola, você perde o controle do próprio corpo”. relembra.
Debate respeitoso
Em relação ao atual momento político que o Brasil vive, imerso em polarizações, Siqueira enfatizou a importância de um debate saudável entre ideias diferentes. De acordo com ele, a existência de diversas ideias é resultado de um regime democrático e por isso, é necessário prezar pelo debate respeitoso.