O que esperar do Bilhete Único no Grande Recife?
Os passageiros de ônibus do Grande Recife começarão a pagar um bilhete único no valor de R$ 4,10. Saiba mais sobre essa mudança
fevereiro 22, 2024 - 5:54 pm

Proposta da mudança veio do governo estadual, por meio da Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura. Foto: Rachel Andrade/LeiaJá
Na tarde desta quinta-feira (22), o Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) se reuniu e aprovou, de forma unânime, a implementação do Bilhete Único. A medida extingue os Anéis A e B do sistema de transporte coletivo na Região Metropolitana do Recife (RMR), com a tarifa mantendo o valor do Anel A, de R$ 4,10. Com um aumento do subsídio, no valor de R$ 310 milhões, a manutenção da tarifa unitária beneficia os passageiros. Mas outras questões seguem sem a devida clareza, segundo a opinião de alguns membros do CSTM.
O secretário de Mobilidade e Infraestrutura, Diogo Bezerra, destacou que a decisão pela mudança para o Bilhete Único foi unânime. “A gente hoje aprova, dentro do conselho, [de forma] unânime por parte de todos os conselheiros, todos observam que esse mecanismo é importante e é um dia histórico. A gente está fazendo, de uma certa forma, justiça social para a Região Metropolitana como um todo porque agora o preço é único em termos de deslocamento e passagem dentro do Grande Recife”, disse.
A implementação, a partir do primeiro domingo de março, deverá passar por um período de observação e avaliação. Serão considerados fatores como oferta e demanda, além da necessidade de haver melhorias no sistema. Bezerra afirmou ainda que não haverá, de forma imediata, aumento da frota dos ônibus, tendo em vista que será necessário um tempo de adaptação.
“A gente entende que o sistema de fato precisa de melhoras, esse é o primeiro passo que a gente está dando, isso atrai a população para dentro do sistema. Efetivamente, isso vai fazer com que a gente tenha uma visão melhor do sistema no sentido de estar disponibilizando às pessoas um sistema melhor ao longo do tempo. E isso vai nos ajudar a ter uma dimensão exata de quanto nós deveremos investir para ter outras melhoras”, disse o secretário.
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Verba do subsídio para o Bilhete Único sairá dos cofres públicos
O subsídio para a implementação do bilhete único, que aumentou R$ 60 milhões em comparação ao ano passado, sairá dos cofres públicos, segundo o secretário. Serão R$ 5 milhões a mais por mês, pelos próximos cinco anos, para garantir a manutenção da tarifa única de R$ 4,10. “Mas há uma garantia justamente no trabalho que vem sendo feito como como um todo para que a gente tenha um racionamento dos gastos e permita fazer esses investimentos”, afirmou Bezerra.
O que dizem outros membros do Conselho sobre o Bilhete Único?
A reportagem procurou conversar com membros do CSTM, que representam o segmento dos usuários comuns, que afirmaram que, mesmo com a aprovação unânime, ainda é necessário avaliar outros fatores. Entre as ressalvas, eles mencionam a quantidade da frota e o compromisso de renovação de veículos antigos. Ainda foram levantados pontos sobre a ampliação e continuidade dos ônibus com ar-condicionado, aprovado pelo CSTM e pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
“Estamos na esperança de saber de onde vai sair a dotação orçamentária para arcar com as despesas deste novo valor tarifário. Nós votamos o novo bilhete, mas não outros pontos, não entrou em pauta. O governo ouviu os pontos, mas não colocou, ficou de daqui a dois meses continuar tendo as reuniões regulares. Faltou tempo de discussão, para apresentação dos estudos e os cálculos de custo de quanto será a partir da nova tarifa”, declarou um dos membros do CSTM.
Apesar das dúvidas, os conselhereiros que representam os usuários comuns celebraram a iniciativa, destacando a “grande vitória” para a sociedade civil. “É uma grande vitória da sociedade civil, pois sempre foi proposta nossa, inclusive em 2022. E há mais de 12 anos que defendemos essa proposta, lógico que com valores menores, e defendemos a tarifa zero”, concluiu um integrante.
Rodoviários esperam melhorias nas condições de trabalho
O Sindicato dos Rodoviários, que também integra como membro do CSTM, avaliou a mudança como “um acerto” e também votou pela implementação do bilhete único. No entanto, o presidente da categoria, Aldo Lima, reforçou que as frotas de ônibus não podem passar por redução. Lima reiterou ainda a necessidade do cumprimento da lei que determina que os veículos tenham ar-condicionado. “Essa medida é uma demonstração de que a manutenção do sistema não pode ter o viés tarifário como balizador, colocando nas costas dos usuários a manutenção de algo que é um direito dos cidadãos, num momento em que a sociedade brasileira discute a tarifa zero, implementada em mais de 80 cidades”, declarou o sindicalista por meio de nota.
A categoria espera ainda que, com o aumento dos subsídios passados para as empresas, haja uma resposta positiva às demandas solicitadas em reuniões sindicais. Uma reunião para debater a atualização da planilha de custos dos trabalhadores rodoviários está prevista para junho deste ano. “A suplementação orçamentária necessária para subsidiar o transporte não pode servir apenas ao atendimento dos interesses dos empresários como é hoje. Faz-se necessário que a força motriz desse sistema, representada nos seus trabalhadores, tenha garantido nesses subsídios percentuais que permitam oferecer ao conjunto da categoria rodoviária melhores condições de trabalho e de salário”, afirmou.