Pedro Vilela passeia entre a “dor de corno” e amor no resgate do “brega cafona”

O cantor e compositor tem conquistado o público com sua irreverência e muito “brega cafona” no pé do ouvido

Pedro Vilela passeia entre a “dor de corno” e amor no resgate do “brega cafona”

Pedro Vilela. Foto: Gustavo Arland

Na contramão do que dita a moda, tanto no universo de vestuários quanto na música, o cantor e compositor Pedro Vilela tem conquistado o público com sua irreverência e muito “brega cafona” no pé do ouvido. O músico, de 30 anos, nascido na capital pernambucana e criado no município de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, inunda a web com bordões inusitados, postura boêmia e canções que nos transportam para as décadas de 60, 70 e 80.

“As paisagens sonoras da cidade sempre me despertaram muito e fui absorvendo aquilo. Quando eu tive certa independência, comecei a, realmente, ouvir as músicas daqui de Pernambuco. Desde Chico Science, maracatus e Reginaldo Rossi. Daí comecei a entender que essa música [brega] era latente e forte”, afirmou o artista, que é professor por formação em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“Eu mergulhei tanto de cabeça nisso que depois que eu me formei, eu me entendi como artista, como cantor. Senti a necessidade de fazer o brega como essa bandeira principal. Eu resolvi fazer um caminho inverso de Reginaldo Rossi, por exemplo, que começa no rock e vai pro brega. Sérgio Reis também foi assim, mas eu quis inverter a polaridade porque tá em pauta a musicalidade brega”, declarou.

O artista tem dois EP’s lançados: Tomando Uma No Sereno (2021) e Só Me Interessa o Amor (2024). Nos discos, Pedro revisita a estética dos bregas das antigas, amplamente conhecidos pela trajetória dos cantores Reginaldo Rossi, Sérgio Reis, Diana, Evaldo Braga e Carlos Alexandre. Inclusive, todos esses nomes são referências de Vilela no processo criativo e estético musical das suas produções autorais, que estão disponíveis no Spotify.

Vilela domina mundo virtual

Nas redes sociais, a popularidade do artista é percebida em meio a juventude, que abraça as “invenções” sonoras do cantor pernambucano. O Tik Tok é a plataforma que Pedro Vilela faz mais sucesso. Por lá, os fãs-internautas trocam ideias com o ídolo.

“Quando tocar essa eu posso falar para meu filho: – Essa é da minha época [sic]”, brincou um rapaz. “Sim, mas cadê o CD para eu levar uma escutando?”, falou um outro fã, em referência ao álbum físico. “Muito bom, cara, brega clássico”, enalteceu um baixista. “Meu ídolo! Quando tiver mostre seu me avise, pois quero estar bem na frente! aaa, só para não esquecer: Aí dento Vilela”, declarou um seguidor, que acabou mencionando o bordão do artista.

Em entrevista ao LeiaJá, Pedro Vilela relembrou uma história interessante sobre seus ouvintes com mais de 60 anos:

“O que me alegra muito é que a minha música é, basicamente, ouvida pela juventude, pessoas mais novas, e tem essa exceção. E eu fico muito feliz com isso. Tem [até] um episódio engraçado, que é o seguinte: as pessoas mais jovens vão escutando e mostrando para os pais. Aí, teve uma avó de uma amigo meu que disse: “ah, essa música é da minha epóca!”. [Daí], meu amigo falou: “Não vó, é do meu amigo novo, é [desse tempo] agora”, contou o artista, que gargalhou com satisfação ao narrar a situação.

Mesmo com essa similaridade, o cantor pernambucano surpreende o público pelas composições das letras. Nelas, Vilela cruza a ponte da “dor de corno” para falar do que está mais próximo de si: o amor. Assim, Seu Vilela – como é mais conhecido na web – afirma que seguirá nesta pegada, que começou no single “Não Posso Sonhar em Te Perder”, desaguou no EP “Só Me Interessa o Amor” e finaliza seu ciclo com canções em referência a década de 90, que estão em produção. O cantor não divulgou previsão de lançamento.

Antes do projeto solo

Apesar de trilhar uma carreira solo, Pedro Vilela também é o vocalista da banda O Quartinho, onde iniciou oficialmente sua trajetória na música. A banda surgiu em 2018, quando um grupo de amigos decidiu reinterpretar canções do brega. Contudo, sua musicalidade bebe de outras fontes, como os gêneros no indie e rock alternativo.

“[O grupo] surgiu desse desejo dos meninos junto comigo de fazer uma musicalidade recifense, mas pegando os elementos de brega e mesclando com música alternativa, indie, rock alternativo. A banda O Quartinho surgiu dessa fusão de elementos populares da cidade e das nossas inspirações do mundo alternativo. [É] fazer uma revisitação ao brega, misturando ele com a linguagem mais jovem”, disse o cantor.

Também carregada de autenticidade, a banda O Quartinho debutou no Carnaval do Recife deste ano. Os “meninos do brega alternativo” dominaram o polo de Jardim São Paulo, localizado na Zona Oeste do Recife. E, claro, os fãs declaram seu carinho pelo grupo com mensagens carinhosas no mundo off-line e on-line.

“Quero que vocês venham para Setúbal”, pediu um rapaz, ansioso para outro show. “Amo essa banda estão de parabéns”, escreveu uma fã. “Eu queroooo ver vocês no SJ e o Festival de Inverno de Garanhuns [sic]”, desejou outra fã do grupo.

“De 2023 para cá, a gente tem tocado em cada palco massa. Tocamos no FIG, no Festival Cocktail, Molotov e no Teatro Hermílio Borba Filho. Este ano a gente conseguiu tocar no Carnaval. [Contudo], não são tantos shows, mas são shows mais pontuais que pra [sic] gente faz sentido, enquanto uma banda alternativa”, explicou.

Em 2024, os músicos lançaram o disco “Desencontro”, disponível no Spotify. Atualmente, a banda é formada por Manuel Malaquias (bateria), que também é produtor executivo, Kadu (sintetizador e guitarra), Zerra (baixo), Lucas Ladiomba (percussão), Cactus Rinoceronte (guitarra solo) e Pedro Vilela (vocal).

Assista à entrevista de Pedro Vilela: