Tecnologia e inclusão: primeira turma do Nordeste de profissionais autistas celebra formatura de curso no Recife

Formatura contou com a capacitação de 12 profissionais neurodivergentes

Tecnologia e inclusão: primeira turma do Nordeste de profissionais autistas celebra formatura de curso no Recife

A formatura contou com a capacitação de 12 profissionais neurodivergentes com o foco em uma empregabilidade inclusiva no mercado tecnológico na capital Pernambuca. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Na tarde desta quinta-feira (17), ocorreu a formatura da primeira turma de profissionais no curso de tecnologia da “Capacitação e formação de pessoas autistas para inclusão no mercado de trabalho”, sediada no Porto Digital, Cais do Apolo, Recife Antigo.

A formatura contou com a capacitação de 12 profissionais neurodivergentes com o foco em uma empregabilidade inclusiva no mercado tecnológico na capital Pernambuca. A formação foi ofertada através da organização social dinamarquesa Specialisterne, com sede no Brasil, em parceria com o Porto Digital. 

Ao LeiaJá a coordenadora de formação da Specialisterne, Juliana Fungaro, explica que os estudantes selecionados tiveram o início do curso em março, com duração de seis semanas de aulas no formato híbrido.

Durante esse período, eles tiveram uma carga horária próxima de 30 horas semanais. Então eles ficaram com a gente das 9h às 16h todos os dias, justamente para já simular esse momento, essa carga horária e esse ambiente de trabalho. Eles foram contemplados com alguns módulos de treinamento, experimentando e aprendendo sobre as ferramentas de tecnologia, desde de pacote office até as metodologias de gestão de projetos como programação e testes de software”, disse Juliana Fungaro. 

Os estudantes, além de estarem imersos no campo da tecnologia, ainda foram acompanhados por especialista em desenvolvimento. “Na parte sócio-profissional, eles tiveram o acompanhamento de um especialista em desenvolvimento profissional, uma psicóloga do time, que trabalhou individualmente com cada um, tanto para identificar as fortalezas, as competências que eles já têm, mas também para apoiar no desenvolvimento de cada um”, conta Fungaro.

Formação proporcionou transição de carreira e novas experiências

A estudante Amélia César, de 33 anos, foi uma das selecionadas para realizar o curso que a proporcionou fazer uma transição de carreira. Ela é sendo bióloga de formação e está na reta final no curso de enfermagem. À reportagem, a recifense conta que antes do curso estava lidando com as áreas administrativa, telemarketing e ouvidoria, porém, procurava algo que agregasse ainda mais ao seu currículo. 

Foi algo que eu cheguei até a brincar que estava sendo bom demais para ser verdade, era um sonho que a gente teria esse suporte ao longo do programa. A tecnologia é um ramo que é tão importante hoje em dia e que está se expandindo tanto, que além de tentar também migrar um pouco mais para essa área e ter mais conhecimento nesse sentido. É algo que eu sinto que pode agregar até às formações que eu já tenho”, comenta Amélia. 

Durante a cerimônia, Rafael Leal, graduado em filosofia, contou à reportagem que o processo de experimentação do curso foi cansativo, mas recompensador. 

O processo foi cansativo, porém estou muito feliz. Foram semanas de muitas felicidades e produtividade onde fui explorado nos requisitos de criatividade e resolução de problemas, pois são atividades que eu gosto e que me sinto vivo e realizado. Então foram seis semanas que vou guardar para o resto da minha vida como uma experiência singular”, diz. 

Do curso ao mercado de trabalho

Segundo a diretora executiva do Porto Digital, Mariana Pincovscky, a partir do curso, haverá uma maior sensibilização das empresas, ressaltando a importância da inclusão de profissionais distintos e diversos. 

É importante que as empresas tenham uma equipe para receber os profissionais neurodivergentes, com diferentes olhares e diferentes perspectivas. O grande papel do Porto Digital, além de oferecer a infraestrutura para receber o curso, é fazer a interlocução entre Specialisterne e as empresas dentro do nosso ecossistema de inovação”, comenta. 

Ao LeiaJá, o diretor de operações no Nordeste da Specialisterne Brasil, Marcelo Franco, comenta que a principal função do curso é trabalhar nos estudantes o desenvolvimento do perfil das softs skills para ingressar no mercado de trabalho por meio da tecnologia. 

Nós temos conversado com diversas empresas, principalmente as embarcadas [empresas] no Porto Digital para que recebam esses profissionais, porque não é uma formação, é muito mais ligado para o lado da acessibilidade e os processos de inclusão. Depois da contratação, iremos ainda fazer um acompanhamento com os profissionais autistas, como os times das empresas que os receberam”, conta Marcelo.

Confira os momentos durante a cerimônia de formação: