Disputa interna no MDB-PE escancara racha entre grupos e fragilidade da legenda
Cientista política aponta enfraquecimento da sigla no Estado e destaca desafios para reconstrução de protagonismo
abril 15, 2025 - 3:25 pm

Fotos: Nando Chiappetta/Alepe; LeiaJá/Arquivo
A poucos dias da convenção estadual do MDB de Pernambuco, marcada para o próximo dia 24 de maio, o partido vive um momento de turbulência interna. O embate entre o atual presidente da sigla no Estado, Raul Henry, e o grupo liderado pelo deputado estadual Jarbas Filho e pelo senador Fernando Dueire escancarou as fissuras que há tempos vinham sendo contornadas nos bastidores. Com a presença confirmada do presidente nacional do partido, Baleia Rossi, o evento pode selar um novo rumo para o MDB pernambucano.
A cientista política Priscila Lapa, em entrevista ao LeiaJá, analisou o atual cenário do partido e o enfraquecimento da legenda ao longo dos últimos anos. Para ela, o MDB perdeu protagonismo no Estado e deixou de coordenar um projeto político robusto como fazia no passado. “Isso não afetou apenas o MDB, mas é reflexo de uma nova conjuntura nacional, em que outras forças políticas passaram a ocupar o centro da cena. No plano estadual, o partido também deixou de liderar debates públicos relevantes e viu seus quadros diminuírem a cada novo ciclo eleitoral. Reconstruir esse espaço, agora, é um enorme desafio”, pontuou.
Um partido em busca de espaço
Segundo Priscila, figuras como o ex-senador Jarbas Vasconcelos ainda representam um capital político simbólico importante. Que confere credibilidade aos posicionamentos do grupo ligado ao seu legado. No entanto, ela observa que a legenda vem pagando o preço por escolhas políticas recentes marcadas por passividade e composições pouco assertivas. “É natural que se busque agora retomar algum protagonismo, mas o MDB vive hoje as consequências de anos de acomodação no cenário político local”, acrescentou.
A disputa pela presidência estadual da legenda revela um choque de visões sobre o papel do MDB em Pernambuco. O deputado Jarbas Filho tem defendido a necessidade de resgatar o protagonismo do partido. “O MDB foi o maior partido do Estado por vários anos. Não pode mais ser satélite de ninguém nem da governadora, nem do PSB. Queremos voltar a ser protagonistas”, declarou o parlamentar.
Ele e o senador Fernando Dueire formam a chapa que pretende tirar Raul Henry do comando da sigla. Ambos estão mais alinhados à governadora Raquel Lyra (PSD), enquanto Henry integra a base do prefeito do Recife, João Campos (PSB), ocupando a Secretaria de Educação da capital. A movimentação reforça a disputa por espaço político mirando as eleições de 2026.
A resposta de Raul Henry
Em nota dura, Raul Henry reagiu às investidas do grupo adversário e repudiou o uso do nome de Jarbas Vasconcelos no processo. “Explorar a imagem de um homem com sua história, nessas circunstâncias, é uma das maiores indignidades que Pernambuco já viu. Jarbas não merece isso. Ninguém vai apagar minha trajetória ao seu lado”, afirmou.
O atual presidente da sigla estadual também classificou a tentativa de antecipar a eleição interna originalmente prevista para agosto e remarcada para maio, como “um ato fraudulento, indecente e de falta de respeito”.
Protagonismo em disputa
Na análise de Priscila Lapa, o partido vive um momento decisivo de reposicionamento, com diferentes alas disputando a narrativa e os rumos futuros da legenda. “Raul Henry foi quem, nos últimos ciclos eleitorais, conduziu as articulações e representou a legenda com maior visibilidade. Agora, tenta manter essa construção política. Por outro lado, o grupo de Jarbas Filho e Dueire busca retomar o MDB como uma força própria, com discurso de independência. Mirando uma maior inserção na política estadual, já que o partido nunca teve um espaço expressivo na gestão de Raquel Lyra”, observa a cientista política.
Ela destaca ainda que o MDB se encontra em uma encruzilhada: “Outras legendas menores conseguiram crescer e se reposicionar, enquanto o MDB ficou para trás. O que está em disputa agora é quem vai conduzir esse novo momento e, mais que isso, quem vai garantir uma sobrevida política para seus quadros em meio a um cenário cada vez mais competitivo”.
Com a convenção batendo à porta e os bastidores fervilhando, o que está em jogo não é apenas a presidência do diretório estadual, mas o futuro do MDB em Pernambuco.